segunda-feira, 16 de março de 2009

Hungria vive uma escalada de ódio contra os ciganos


A escalada do ódio na Hungria contra os ciganos é preocupante e o sistema legal não basta para frear as cada vez mais frequentes mostras de racismo que causaram a morte de sete pessoas da etnia romani.
Essa é a conclusão de cinco ONGs, entre elas a União para as Liberdades Civis (TASZ), cujo representante, Balázs Dénes disse à Agência Efe que o que acontece no país é um verdadeiro "pogrom" (termo da língua russa que designa ataque maciço contra uma minoria étnica) contra os ciganos.
Em um ano as autoridades húngaras registraram mais de 50 atos violentos contra a população romani, que causaram a morte de sete pessoas, segundo dados da TASZ.
O último caso foi em fevereiro na aldeia de Tatarszentgyörgy, palco do assassinato de um cigano e de seu filho de cinco anos, que foi outro elo na cadeia de violência suscitada contra esta etnia.
Dénes ressaltou que nesta situação é de suma importância que o presidente da República, László Sólyom, dê um passo simbólico, como sua participação no enterro das vítimas.
A Polícia, após dias de pesquisas, admitiu que os ataques contra ciganos estão relacionados entre si e que possivelmente se trate de um mesmo círculo de criminosos.
György Ligeti, analista da Fundação Kurt Lewin - Pela Tolerância, explicou que a experiência geral é que em períodos de depressão econômica a maioria tende a culpar as minorias pelos problemas vividos pelo país.
Acrescentou que devido ao fato de muitos ciganos viverem na miséria, aumentou a possibilidade de que alguns se transformem em "delinquentes de sobrevivência". Isto irrita a maioria, que passa também por problemas existenciais, e que em muitos casos tacha todos os romanis de delinquentes.
Os partidos e organizações de extrema direita, que formam "uma muito pequena minoria, mas muito visível", são capazes de se aproveitar desta situação, quando falam do "crime cigano", tal como fazem o partido Jobbik e a Guarda Húngara (organização que reúne extremistas).
A situação é tão grave que a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, e a secretaria de Exteriores americana criticaram a Hungria pelo aumento do racismo no discurso público.
O comissário europeu de Emprego e Assuntos Sociais, Vladimir Spidla, destacou que na Hungria e outros países-membros da UE "os ciganos se transformaram no alvo de ataques racistas".
Na Hungria, que conta com 10 milhões de habitantes, vivem, segundo alguns cálculos, cerca de 600 mil ciganos, cuja integração é uma tarefa pendente desde a queda da Cortina de Ferro, em 1989.
"Os partidos se aproveitam da situação antes das eleições, só para aumentar o número de votos", assegurou Ligeti.
Por sua parte, Anikó Bernát, socióloga do Instituto Tárki, opinou que se trata de um longo processo de 20 anos, já que os Governos da transição política não foram capazes de abordar o tema com a profundidade necessária.
"O desemprego e a miséria são problemas que caracterizam a situação social de uma grande maioria da população cigana na Hungria, até o ponto que agora cresce uma segunda geração romani que não viu seus pais trabalharem", acrescentou Bernát.
Por sua vez, o defensor público para as minorias, Ernö Kállai, em discurso perante o Parlamento pediu "um plano de paz étnico" e responsabilizou a elite política pelas relações tensas entre os diferentes grupos sociais.
As últimas pesquisas publicadas pela revista "HVG" mostram que o apoio ao partido radical-nacionalista de direita, Jobbik, que mobiliza com seu discurso de ódio alguns setores da população, já alcança, pela primeira vez, o limite mínimo de 5% para poder entrar no Parlamento.
Angela Kóczé, especialista do Centro Europeu pelos Direitos dos Ciganos, com sede em Budapeste, explicou que a aparição da Guarda Húngara, uma formação inspirada nos movimentos fascistas húngaros, "serve de instrumento de legitimação" para muitos que até agora não se expressavam contra os ciganos.
"Na creche de Szikszó (leste do país), onde temos um projeto, as professoras impõem a ordem entre as crianças ciganas ameaçando-as com a Guarda Húngara", ressaltou a pesquisadora.
Apesar de Kóczé opinar que a situação atual é dramática e pode ter consequências imprevisíveis, ela ressalta que esta crise social poderia criar as condições para repensar as estruturas e a convivência entre ciganos e húngaros.

Marcelo Nagy.Budapeste, 2 mar 2009 (EFE)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Ciganos potiguares lutam contra os preconceitos


Ciganos no Rio Grande do Norte lutam por reconhecimento social. Documento essencial na formação da cidadania de qualquer pessoa, a certdão de nascimento é difícil de ser concedida aos ciganos nascidos no Brasil. A denúncia é do jornalista e psicólogo Zarco Fernandes, diretor do Centro de Cultura Cigana de Minas Gerais, que passou o final de semana em Natal para iniciar um trabalho de mapeamento deste povo no estado. ‘‘O cigano enfrenta uma tremenda burocracia e preconceito quando vai requerer a sua certidão de nascimento. Pedem uma série de comprovações, como o CEP, por exemplo, que não são condizentes com estilo de vida nômade que é próprio desse segmento’’, disse ele. Zarco (nome cigano), cujo nome de registro é Marco Fernandes, falou que no município de Tangará dois jovens tiveram que mudar o nome de sua banda porque ele o adjetivo ‘‘cigano’’. ‘‘Não lembro exatamente o nome, mas era alguma coisa como ‘Grupo Cigano’ ou ‘Amor Cigano’. Enfim, eles foram alvo de preconceito porque o nome, segundo alguns contratantes, passa a ideia de desonestidade ou falta de compromisso’’, declarou Fernandes. ‘‘Isso é um crime terrível porque obriga o ser humano violar o que ele tem de mais precioso: a sua cultura’’, desabafa o jornalista. Ele admite que o preconceito diminui um pouco em relação ao passado recente por causa dos programas de inclusão social promovidos pelo governo federal. De acordo com Fernandes, o cartório exige um documento comprovando o nascimento da criança e que os pais apresentem documentação de identidade. ‘‘Ora, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sequer consultou um antropólogo para saber que nem pais nem avós vão ter esse registro. Pedem um código de endereçamento postal sem se darem conta de que a barraquinha do cigano não é vista como domicílio, ao contrário do barraco de um traficante, por exemplo’’. Nascido em Natal, Zarco Fernandes saiu da cidade adolescente, já morou no Rio de Janeiro e hoje mora em Belo Horizonte, onde hoje atua como psicólogo clínico. ‘‘Já denunciei essa calamidade contra a cultura cigana em audiência públicas mas o estado de coisas continua o mesmo. Na luta do rochedo contra o mar, sobra para o marisco, que é o cigano nessa história’’. Ele também afirma que ‘‘criando dificuldades’’, os cartórios alimentam uma cadeia de corrupção. ‘‘Eles dizem que não podem registrar os ciganos por falta de documentação mas por mil e quinhentos reais resolvem o problema. É totalmente contrário à determinação do governo federal de acabar com o sub-registro civil’’. ‘‘Por puro preconceito’’, alega ele, a maioria dos brasileiros não sabem ‘‘que já tiveram um presidente cigano’’, referindo-se a Juscelino Kubitschek. Fernandes diz que vai lançar um livro provando a ciganeidade do ex-presidente. ‘‘É um cigano com origem na Tchecoslováquia, cujo avô, um negociador de tropas de burros, era do grupo Calom (umas das três principais descendências ciganas). Mas a sua filha filha exigiu que a ciganeidade dele não fosse citada na mini-série da Rede Globo’’. ‘‘Ninguém sequer cita que temos dois imortais na Academia Brasileira de Letras de origem cigana, que Cecília Meireles e Castro Alves eram ciganos. Na Inglaterra, quatro pessoas que receberam o título de ‘Sir’ da rainha são ciganos: Charles Chaplin, Roger Moore, Sean Connery e Richard Burton’’, cita o psicólogo. Fernandes diz não saber a quantidade de ciganos no Rio Grande do Norte, mas afirma que em Minas Gerais eles são aproximadamente 492 mil. Ele cobra do governo e prefeitura empenho e atenção para mapear a população cigana potiguar, que ele diz serem da descendência Calom, a mais pobre. ‘‘Há linhagens de ciganos muito ricos, andam em carros luxuosos, mas não é o caso dos que estão no Nordeste brasileiro’’, explica. ‘‘Espero que seja um passo importante na inclusão social do cigano, cujas polítcas públicas estão muitas atrasadas em relação a outros países. É um povo que já mostrou sua pujança ao enfrentar uma série obstáculos e perseguições ao longo da história’’, finalizou.


Fonte Diario de Natal