segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Chanel aposta em mulher-cigana no verão 2009



A mulher de Chanel será uma cigana no verão de 2009

PARIS (AFP) — A mulher de Chanel será uma cigana no verão de 2009, segundo a coleção de prêt-à-porter proposta nesta sexta-feira por Karl Lagerfeld, enquanto Jean-Charles de Castelbajac homenageou Barak Obama em um de seus minivestidos com lantejoulas, em um desfile alegre e colorido.

"Adoro a música. Depois de tudo, Chanel (Coco) teve uma aventura com Stravinsky, e eu tenho um caso com um violão", disse Lagerfeld aos jornalistas reunidos no Gran Palais de Paris, onde aconteceu o desfile.

"Chanel sempre fez vestidos esvoaçantes como estes. Ela chamava isso de cigana, é muito Chanel", afirmou o estilista, referindo-se às saias e vestidos longos vaporosos que predominaram na coleção.

No desfile, as modelos saíam de um cenário que reproduzia o edifício da maison Chanel, na parisiense Rue Cambon, como se tivessem acabado de comprar suas roupas e decidido dar um passeio.

Lagerfeld também pensou nas mulheres que preferem as saias mais curtas, com jaquetas em preto e branco e em tweed. Sapatos altíssimos decorados com plumas e meias opacas, que ficam transparentes na altura dos joelhos, complementam a produção.

"Assim, cobre-se o joelho, que era o ponto fraco para Coco Chanel. Isso se chama uma meia à francesa", explicou Lagerfeld, cujo desfile teve várias VIPs na platéia, como as atrizes Milla Jovovich e Laura Smet, a modelo Claudia Schiffer e a mulher do ex-presidente francês Jacques Chirac, Bernadette.

Já Castelbajac propôs uma coleção que não tem espaço para a tristeza. Com um cenário de um céu azul cheio de nuvens brancas, mostrou uma coleção alegre, com vestidos estampados com pequenos ladrilhos coloridos, como nas construções infantis, capas de plástico transparente e minivestidos de lantejoulas com efígies.

Entre eles, destacava-se o rosto do candidato democrata à Casa Branca, Barak Obama, o que provocou aplausos do público.

"Em um mundo onde há cada vez mais pobres, um mundo cheio de catástrofes, quis dar outro impulso", declarou Castelbajac, acrescentando que "não se trata de ter encontrado o luxo como resposta, mas sim que a verdadeira resposta é encontrar um sentido".

"Em meio a esse sentido, ponho minhas convicções: a esperança de um mundo melhor. Por isso, mostro Obama, a beleza (...) e o humor, porque, para sobreviver hoje em dia, é preciso ter muito humor", completou.

Na casa Valentino, Alessandra Facchinetti desvestiu, com elegância, a mulher do verão de 2009, propondo várias bermudas muito fluidas sob jaquetas leves, assim como vestidos bem curtos, e outros com mangas curtas franzidas, além dos longos cordões marcando a cintura.

Cinturões-jóia, entrelaçados de lantejoulas, ou de flores de cristal, sobre uma jaqueta preta deram o toque de sofisticação.

Fonte AFP Noticias 03/10/2008

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Apostar nas potencialidades dos jovens ciganos


É necessário apoiar os jovens ciganos na rentabilização das suas potencialidades tanto na sociedade com na Igreja, foi uma das principais conclusões do VI Congresso Mundial da Pastoral dos Ciganos, realizado em Freising na Alemanha, de 1 a 4 de Setembro de 2008. Na abertura do Congresso que contou com 150 participantes de 26 países de três continentes, e cujo tema foi “Os jovens ciganos na Igreja e na sociedade”, falaram o Presidente da Conferência Episcopal Alemã, o Núncio Apostólico na Alemanha, o Ministro do Interior, o Secretário de Estado do Ensino e do Culto da Baviera e o Presidente da Câmara de Freising, personalidades que afirmaram o seu apoio aos jovens ciganos e a sua solidariedade com a solução dos problemas que os afectam particularmente na actualidade.

O Arcebispo Agostino Marchetto, Secretário do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI), entidade que organizou o Congresso, com o apoio da Conferência Episcopal Alemã, presidiu aos trabalhos do Congresso e leu a mensagem do Cardeal Renato Martino, Presidente do CPPMI, na qual se afirma que a Igreja tem necessidade do idealismo e da generosidade da fé jovem dos ciganos. O Cardeal Martino referiu ainda que os Estados devem garantir a todos os seus membros as condições propícias a um autêntico desenvolvimento integral da pessoa humana e deplorou as ambiguidades de Governos relativamente aos ciganos.

O Arcebispo Agostino Marchetto evocou os casos de sucesso de projectos de formação profissional para ciganos realizados na Hungria e em Espanha, neste caso pela Fundação Secretariado Gitano: o projecto ACCEDER que visa a aquisição de competências profissionais que permitem aos jovens ciganos o acesso ao mercado de trabalho. O Secretário do CPPMI mencionou as iniciativas de apoio aos ciganos, tomadas pela OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) e pelo Conselho da Europa no seio do qual funciona o Fórum Europeu dos Ciganos e Viajantes (ERTF), organismo constituído por ciganos que representam as estruturas ciganas dos países europeus; e sugeriu a formação de comissões mistas Igreja – Estado, com vista a programar estratégias de acção que visem solucionar os problemas que afectam os jovens ciganos.

O Congresso formulou diversas conclusões e recomendações nos domínios da evangelização e da promoção social dos jovens ciganos, cujo texto oficial será proximamente divulgado pelo CPPMI.

Constataram-se as inúmeras dificuldades que os jovens ciganos enfrentam na actualidade, em praticamente todos os países presentes, nos domínios da habitação, da educação e do emprego e no que concerne a discriminação, a indiferença e a marginalização a que estão sujeitos e, inclusivamente, o seu não acolhimento em muitas Paróquias; existem, no entanto, casos de ciganos leigos que assumem responsabilidades em comunidades paroquiais onde predominam os não ciganos; assinala-se ainda o trabalho evangelizador de sacerdotes e religiosas de etnia cigana.

No domínio das recomendações, acentua-se a necessidade de os ciganos assumirem as suas próprias responsabilidades na sociedade e na Igreja, de serem apoiados na rentabilização das suas potencialidades quer cívicas, quer religiosas e de a Igreja se abrir mais, no seu interior, à escuta e ao acolhimento dos ciganos e ao diálogo com eles. Neste último aspecto, enfatizou-se a necessidade da formação em interculturalidade nos Seminários.

O Congresso contou com a participação de numerosos ciganos e ciganas, tanto enquanto oradores como na qualidade de participantes. A delegação portuguesa integrou a D. Fernanda da Fonseca Maia (Delmar), cigana de Espinho, do Secretariado Diocesano da Pastoral dos Ciganos do Porto.

“Nós devemos combater o racismo não com as armas mas com o amor, com o trabalho e com a humildade, provando que para além dos nossos defeitos, nós também temos os nosso valores.” Palavras de Branislav Savic, jovem cigano de Itália, na Mesa Redonda dos Jovens Ciganos, durante o Congresso.

Francisco Monteiro - Agência Eclesia


terça-feira, 19 de agosto de 2008

Ciganos desafiam invisibilidade e buscam cidadania


BRASÍLIA - Em Aracaju, ciganos vivem em um antigo galinheiro. Em Goiás, diversas prefeituras proíbem os nômades de erguer suas barracas. Em todo o Brasil, membros da etnia Calon, a mais pobre, vivem em condições precárias de saneamento e saúde. Pela tradição de invisibilidade, boa parte se recusa a tirar carteira de identidade ou receber técnicos do IBGE. Em meio à discriminação de séculos de história, lideranças ciganas de vários Estados brasileiros estão se articulando, neste início de milênio, para levar finalmente cidadania a seu povo.


O relato de ciganos vivendo em um galinheiro, nos arredores de Aracaju, foi feito à reportagem na terça-feira, dia 21, pelo antropólogo Frans Moonen, professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). É dele a posição de que não há estatística segura sobre o número de ciganos no Brasil. Uma pesquisadora falou uma vez que são 150 mil, e em outras ocasiões 300 mil, 600 mil e 800 mil. O fato é que eles são muitos, e com problemas decorrentes da natalidade:

- As famílias que vivem em acampamentos não possuem informações sobre controle de natalidade e uso de contraceptivos – descreve a paulista Lara Orlow, Calon de Guarulhos que freqüenta acampamentos pobres em Franco da Rocha. - Geram muitos filhos, e na maioria dos casos, entregam as crianças ainda recém-nascidas a outros ciganos com melhores condições de vida ou ainda os dão por adoção a gadjes (não ciganos), perdendo suas raízes, costumes e histórico cultural.

Os ciganos têm agrupamentos significativos em municípios como Campinas (calcula-se que haja 400 famílias), Curitiba, Aracaju e Nova Iguaçu, entre outros. Apesar da diferença, ou mesmo rivalidade entre etnias como Rom (subdividida por sua vez em vários grupos), Calon e Cindi, há convergência no culto à família e, hoje, um início de aproximação visando a conquista de direitos para todos. O evento do dia 21, com lideranças ciganas no Palácio do Planalto, pode ser considerado um marco nesse sentido.

A ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, não compareceu ao evento promovido por sua pasta. Por conta do lançamento do GT Cultural Cigano, porém, o ator Sérgio Mamberti, secretário da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, prestigiou os ciganos e acenou com a possibilidade de um edital específico para projetos por eles apresentados, a exemplo do que já está sendo feito com comunidades indígenas.

As reivindicações dos Calon e Rom presentes ao evento, convergiram em sua maioria. Os ciganos querem mais visibilidade, reconhecimento e condições de saneamento, educação e saúde nos acampamentos. Querem acesso à cultura, e verbas pelos programas de incentivos governamentais para “contar a própria história”.

E esta é uma história de discriminações.

- Eles chegaram ao Brasil acorrentados, no século 19 – conta a tia de Lara Orlow, a paulista Márcia Yáskara Guelpa, da Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci) – Os negros viviam em situação melhor, pois recebiam comida. Os ciganos viviam nos arredores, e quando entravam na cidade não podiam nem pisar na calçada.

Mesmo hoje não é difícil ver alguém atravessar a calçada, nas grandes cidades do Brasil ou da Europa, quando aparece um cigano. Eles são estigmatizados como ladrões, ou vagabundos – antigamente, até como “raptores de criancinhas”, como conta o paranaense Cláudio Iovanovitchi, do Conselho de Promoção da Igualdade Racial.

- Essa de raptar crianças quem criou foi o Miguel de Cervantes, em um de seus contos – afirma Iovanovitchi. No Brasil, estamos com uma legislação que é uma criança de 2 anos. (Os ciganos foram incluídos no Programa Nacional de Direitos Humanos II, durante o governo FHC.) E na hora em que conseguirem dividir a voz dos excluídos, os primeiros a dançar serão os ciganos.

Em Franco da Rocha, Carlos Calon, um funcionário da prefeitura, cavou uma trincheira em defesa dos que moram em acampamentos na região:

- Não são expulsos porque eu brigo por isso. Falo: então eu vou embora. Se eu não sou bem-vindo, então vou embora. Cigano é um pelo outro.

O goiano Jesus, um Calon que se orgulha da filha ter passado num concurso público para professora, conta que está difícil montar um acampamento em seu Estado, pois várias prefeituras têm promulgado leis proibindo as barracas. “Não há nada que possam fazer por isso?”, pergunta.

Segundo Iovanovitchi, os ladrões locais, nesses municípios pequenos, desenvolveram o costume de promover ondas de furto no período em que os ciganos lá estão. Acusados, os ciganos vão parar na polícia. Sem RG, sem endereço, sem testemunhas a favor, acabam sendo pressionados a deixar o local. E o círculo vicioso se perpetua.

Esse círculo é tão amplo que a discriminação atravessa as classes sociais. A coordenadora da Fundação Santa Sara Kali, Mirian Stanescon Batuli, uma orgulhosa e bem vestida Kalderash (ramo dos Rom que, segundo o antropólogo Doonen, proclama-se autêntico e nobre), “filha de cigano rico”, diz que o preconceito começa na infância:

- Se sumia uma caneta na sala, a primeira pasta revistada era a minha. Até chegar na faculdade foi assim.

Ela conta que quando estudou advocacia, há 33 anos, o preconceito vinha dos próprios ciganos:

- Eu era alvo de chacota nas festas ciganas. “Lá vem a doutorinha”, diziam.

Sobre a possibilidade de cotas para ciganos nas universidades, Mirian defende posição polêmica:

- Se 99% do meu povo é analfabeto, vou lutar por faculdade? Quero uma unidade médica onde tenha uma mulher para tocar nas ciganas. Elas não vão porque os maridos não as deixam serem tocadas por um homem. É mais fácil colocar uma ginecologista do que mudar uma cultura - raciocina.

E, dirigindo-se aos gadjes, fulmina:

- Do mesmo jeito que vocês têm medo da gente, nós temos medo de vocês.

ALCEU LUÍS CASTILHO
Agencia Reporter Social

sábado, 16 de agosto de 2008

ALEMANHA SEDE DO VI CONGRESSO MUNDIAL DA PASTORAL DOS CIGANOS


Realizar-se-á de 1 a 4 de Setembro próximo, em Freising, Baviera, Alemanha, o VI Congresso Mundial da Pastoral dos Ciganos, promovido pelo Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, sobre o tema “Os ciganos jovens na Igreja e na sociedade”.

Foi em Freising que o Papa Bento XVI estudou e foi ordenado sacerdote; enquanto Arcebispo de Munique celebrou Missa frequentemente na catedral de Freising e participou em encontros no local onde o Congresso se vai realizar.
O Congresso será inaugurado pelo Cardeal Renato Martino, Presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes. Após a abertura dos trabalhos o Arcebispo Agostino Marchetto, Secretário do mesmo organismo vaticano falará sobre “Os jovens ciganos, um recurso da comunidade civil e eclesial”.
A juventude cigana será tratada na sua realidade religiosa pelo antigo Diretor nacional da Pastoral dos Ciganos de França, P. Denis Membrey e na sua situação socio-política pela Drª Eva Rizzin, do Centro de Investigação e Ação contra a Discriminação dos Ciganos, da Itália.
As oportunidades para a colaboração cigana nos âmbitos educativo, profissional e político serão tratadas por representantes da Índia, Espanha (pela Irmã Belém Maya, cigana) e Romênia. O Congresso terá duas Mesas redondas: dos Diretores Nacionais sobre a evangelização e a promoção humana dos jovens ciganos e dos jovens ciganos presentes sobre o protagonismo dos jovens.
O Congresso será inaugurado pelo Cardeal Renato Martino, Presidente do CPPMI, seguindo-se a abertura pelo Arcebispo Agostino Marchetto, Secretário do CPPMI que falará sobre “Os jovens ciganos, um recurso da comunidade civil e eclesial”. A juventude cigana será tratada na sua realidade religiosa pelo antigo Director nacional da Pastoral dos Ciganos de França, P. Denis Membrey e na sua situação socio-política pela Drª Eva Rizzin do OsservAzione, Centro de Investigação e Acção contra a Discriminação dos Ciganos, de Itália.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Ederlezi


Esta Música é uma homenagem ao dia da chegada da primavera, onde o fim do inverno é o início de uma nova etapa. Coincide também com o Dia de São Jorge, de quem os ciganos Balcãs são devotos.Um dia para ser comemorado, para cantar para dançar e como de costume sacrificar e assar um carneiro. Esta versão foi idealizada por Goran Bregovic músico e compositor e foi adaptada no filme Tempo dos Ciganos de Emir Kusturica.


Segue Video e letra em Romani





Sa me amala oro kelena
Oro kelena, dive kerena
Sa o Roma daje
Sa o Roma babo babo
Sa o Roma o daje
Sa o Roma babo babo
Ederlezi, Ederlezi
Sa o Roma daje
Sa o Roma babo, e bakren chinen
A me chorro, dural vesava
Amaro daje, amaro dive
Amaro dive, Ederlezi
Ediwado babo, amenge bakro
Sa o Roma babo, e bakren chinen
Sa o Roma babo babo
Sa o Roma o daje
Sa o Roma babo babo
Ederlezi, Ederlezi
Sa o Roma daje

by Goran
Bregovic

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Acampamento cigano muda visual do Jardim América

Jacqueline Lopes
Bruno Arce


O acampamento da família cigana “Rorananoa”, do Paraná, chama a atenção de quem passa pela Rua Pacífico Lopes Figueira, no Jardim América, em frente ao Parque de Exposições Laucídio Coelho, em Campo Grande. As barracas grandes, na área em frente ao Comando do Corpo de Bombeiros, e a presença de veículos e crianças tornaram o ambiente semelhante a um camping.

Outro grupo de ciganos também está na Praça Ary Coelho, região central da Capital.

No Jardim América, são seis adultos e seis crianças com costumes e dialetos típicos. Não é possível entender o que é dito. O português tem um leve sotaque de quem nasceu no Paraná, de onde os Rorananoa são.

O líder do grupo, Cristiano Stevano Vit, de 21 anos, disse que há três anos a família escolhe aquele lugar para se instalar quando vem à Capital. “Somos mascates, vendemos enxovais nos bairros, nas casas”, diz.

Na entrada do acampamento, dois veículos Fiat Strada, com carroceria, e toda infra-estrutura de camping – fogão, tapetes, cadeiras e sofás – demonstram que ali a falta de paradeiro nada tem a ver com pobreza.

“A gente trabalha. Meu tataravô já era cigano. Não tem jeito de nascer e querer outra vida porque está no nosso sangue”, diz Vit com o filho de 8 meses ao colo.

Sorte

A leitura das mãos, que para muitos não passa de golpe, truque para conseguir dinheiro fácil, é segundo a cigana Daniela Stevano, de 21 anos, mulher de Vit, outra tradição.

O que é dito, tem que guardar segredo, diz. Só as mulheres ciganas têm o dom.

Vit explica que a sua família se concentra na região do Paraná, mas há centenas de outras que percorrem o Brasil e são conhecidas em diferentes estados.

O mistério em torno da vida e tradição tem a ver com os preconceitos e medos.

Nas cidades pequenas até ameaças da polícia o grupo já sofreu. “Falam que somos ladrões. Tem muito brasileiro ladrão por ai. A gente trabalha e muito. A gente tem que conversar e explicar quem somos ai nos respeitam”, relata Vit.

As crianças, segundo ele, são criadas junto aos pais e aprendem ler e escrever com eles. Por algum tempo eles ficam num único lugar para que os filhos possam estudar, mas logo colocam o pé na estrada. Os Rorananoa conhecem todo o Brasil e já estiveram no Uruguai, Bolívia e Paraguai.

Vit relata que uma vez, em Campo Grande, moradores de rua pediram para ficar junto ao grupo. “Com papelão, eles arrumaram uma cama para eles e dormiram com a gente”, lembra.

Para uma das mulheres que lavava a louça enquanto o casal dava entrevista, a vida sem paradeiro é cansativa. “Estou cansada disso. Me criei assim, mas não quero mais isso pra mim”, desabafa baixinho ela, de 40 anos.

Liderança

Como o chefe do grupo foi buscar mais enxovais em Ibitiganga (SP), Vit não autorizou que registro fotográfico ocorresse dentro da área. “Somos que nem índio, sem o cacique, a gente não pode tomar decisões”.

O motorista Vilne Santana, de 53 anos, que trabalha no Parque Laucídio Coelho no transporte de gado, considera a presença do grupo animadora para a região. “Eles são bacanas”, diz.

Cidadania

Em 2006, o repórter Alceu Luís Castilho, do site www.reportersocial.com.br, publicou matéria sobre os maus tratos sofridos pelos ciganos no país.

Em Aracaju, ciganos vivem em um antigo galinheiro, segundo a reportagem. Em Goiás, diversas prefeituras proíbem os nômades de erguer suas barracas. Em todo o Brasil, membros da etnia Calon, a mais pobre, vivem em condições precárias de saneamento e saúde.

Pela tradição de invisibilidade, boa parte se recusa a tirar carteira de identidade ou receber técnicos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística). Em meio à discriminação de séculos de história, lideranças ciganas de vários Estados brasileiros estão se articulando para levar finalmente cidadania a seu povo. No caso dos Rorananoa, Vit conta que eles pagam impostos para que na velhice possam aposentar.

O relato de ciganos vivendo em um galinheiro foi feito pelo antropólogo Frans Moonen, professor aposentado da UFPB (Universidade Federal da Paraíba). As famílias que vivem em acampamentos não possuem informações sobre controle de natalidade e uso de contraceptivos – descreve a paulista Lara Orlow, Calon de Guarulhos que freqüenta acampamentos pobres em Franco da Rocha. - Geram muitos filhos, e na maioria dos casos, entregam as crianças ainda recém-nascidas a outros ciganos com melhores condições de vida ou ainda os dão por adoção a gadjes (não ciganos), perdendo suas raízes, costumes e histórico cultural.

Consta ainda na reportagem que os ciganos têm agrupamentos significativos em municípios como Campinas (calcula-se que haja 400 famílias), Curitiba, Aracaju e Nova Iguaçu, entre outros. Apesar da diferença, ou mesmo rivalidade entre etnias como Rom (subdividida por sua vez em vários grupos), Calon e Cindi, há convergência no culto à família e, hoje, um início de aproximação visando a conquista de direitos para todos.

História

Eles chegaram ao Brasil acorrentados, no século 19, segundo a Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci). De acordo com a reportagem, os negros viviam em situação melhor, pois recebiam comida já os ciganos nos arredores, e quando entravam na cidade não podiam nem pisar na calçada.

Até hoje, muitas pessoas têm medo de ciganos e atravessam a calçada, nas grandes cidades do Brasil ou da Europa, quando aparece um cigano. Os estigmas de ladrões, vagabundos – “raptores de criancinhas” – fazem parte do desafio histórico dos cidadãos ciganos. Miguel de Cervantes foi quem, em um de seus contos, disse que ciganos eram raptores.

Não há uma estatística segura, pesquisas já apontaram que são 150 mil, e em outras ocasiões 300 mil, 600 mil e 800 mil ciganos no país. No governo de FHC (Fernando Henrique Cardoso) eles foram reconhecidos como povo de cultura e costumes próprios.

Materia Media Max Jornal Mato Grosso do Sul


terça-feira, 15 de julho de 2008

Rebecca Covaciu

Racismo


Tristemente a Europa revive ondas de perseguição racista na Espanha, na Itália, Alemanha... sintoma que ganha força com a ascensão ao poder de figuras de direita como Silvio Berluscone, aliado aos fascistas (em especial à Liga do Norte da Itália). Ciganos, africanos, emigrantes asiáticos, e outros “diferentes” são perseguidos em muitas cidades e capitais européias, reproduzindo-se noite e dias que acreditávamos que não se repetiriam.
Abaixo trecho de matéria especial publicada em El País.com, hoje, domingo, 13 de julho.

Nas fotos: Em destaque, Rebecca Covaciu; e com toda a sua família romaní.

“Querida Europa...”



A menina romena e cigana (romaní), Rebecca Covaciu, resiste a uma vida de perseguição e miséria. Uma viagem “de tristeza” desde Arad a Milão, Ávila, Nápoles e agora Potenza.


Aos 12 anos, Rebecca Covaciu – olhos grandes, dentes brancos, sorriso esplêndido – viveu e viu tantas coisas, que poderia escrever, se escrevesse, um bom livro de memórias. Rebecca é romena da etnia romaní (cigana), e passou a metade de sua vida nas ruas. Dormiu em um furgão, uma barraca, ao relento. Por alguns dias mendigou com seus pais pela Espanha e Itália. Em outros, viu destruírem sua barraca, foi agredida pela polícia italiana, ouviu encoberta por uma manta como seu pai era espancado por defendê-la, viu morrer crianças por não terem medicamentos, conheceu o medo dos ciganos que fugiram de Ponticelli (Nápoles) quando seu acampamento foi incendiado. Mas Rebecca resistiu. E provocou comoção na Itália com sua história em primeira pessoa. Uma carta em que resume seu sonho: ir ao colégio e que seus pais tenham trabalho.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Influencia Cigana na Cultura Portuguesa "O Fado"


O Fado e' um estilo musical portugues. Geralmente e' cantado por uma so' pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra classica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa.
Para Saber Mais sobreo o Fado http://pt.wikipedia.org/wiki/Fado


Referências ciganas entre as influências do fado
As influências ciganas no fado e a sua chegada a Lisboa a partir «da região saloia» são alguns dos argumentos de teses defendidas hoje no primeiro painel do Congresso Internacional do Fado, em Lisboa


O antropólogo José Machado Pais, que abriu o primeiro painel da tarde, defendeu a existência de um conjunto de influências e referências musicais na constituição do fado, salientando as de etnia cigana.

Para este investigador, há «um silêncio dos ciganos na História de Portugal» e, por analogia, na do fado.

Curiosamente, uma das primeiras citações documentais relativas ao fado, enquanto dança e canto, liga-se à etnia cigana e surge no «Auto das Ciganas», de Gil Vicente, datado de 1521.

Esta é, segundo José Machado Pais, «a primeira fonte documental em que surge o fado ligado ao canto e à dança».

No texto vicentino lê-se: «Entram quatro ciganas dançando e cantando o fado em ciganês», disse o investigador, segundo o qual o auto foi representado em Évora.

O investigador Paulo Lima, por seu turno, afirmou que «recuar a 1830/1840 para falar de fado, é uma ilusão» e defendeu que «o fado chegou a Lisboa por terra e não por mar».

Lima desvaloriza deste modo as origens brasileiras e de além-mar da canção de Lisboa, sublinhando a importância das populações que viviam nas zonas à volta da capital, conhecidas como zona saloia.

«O fado vai-se construir dentro de um conjunto variado de influências fora das portas de Lisboa, e daí ter chegado por terra», afirmou.

Lima contextualizou os sinais do século XVIII, em Lisboa, após o terramoto, em que a capital «era um estaleiro a que aflui mão-de-obra da zona saloia (região Oeste)», explicou o investigador.

O especialista deixou ainda um alerta aos responsáveis pela candidatura do fado a património da Humanidade, que deverão tomar em atenção o papel do fado como canção operária e de contestação em finais do século XIX e princípios do século XX.

Lima citou o papel preponderante neste domínio dos fadistas João Black e José Harrington. O historiador Rui Ramos, biógrafo do Rei D. Carlos, referiu «a emergência do fado como canção nacional» no século XIX, integrada num movimento cultural que qualificou de «reaportuguesamento».

Se o fado surge como «canto nacional agregador« e, na tentativa de reforço de uma identidade nacional, para Rui Ramos, por seu turno, Paulo Lima salientou que, ao ser uma canção "contra o estado das coisas» e do operariado, «mais do que nacional, aspirava a ser universal».

Fonte Jornal Sol Portugal

domingo, 22 de junho de 2008

PARNO GRASZT


Durante os últimos 20 anos o nome PARNO GRASZT (que significa cavalo branco, como um símbolo de pureza e liberdade na linguagem Romany) tornou-se o equivalente de fé na música cigana húngara.


Pelo menos é o que os críticos dizem.

Para os músicos de Parno Graszt, ser autêntico não é nada mais do que serem eles próprios. Viver na integridade e tocar uma música que sempre tiveram. Tal como Simon Broughton (Songlines) disse após passar um fim de semana com Parno Graszt em sua casa na aldeia de Paszab: 'Eles não usam fontes de música cigana, eles são a fonte em si. "

Com efeito, já em Paszab em tempos de cerimônias sociais música é partilhado por cada um da comunidade: instrumentos são passadas de mão em mão e praticamente toda a gente é um mestre de dança. Não há nenhuma banda, não há audiência. Existe um encontro festivo unificado. Para Parno Graszt, tanto faz tocar em seu quintal ou em um festival com uma platéia de 50 mil pessoas.

A banda toca canções folk tradicional Gypsy recolhidos a partir de Nordeste da Hungria e da Roménia, juntamente com as suas próprias composições, representando assim um dialeto local específico de música cigana. Os seus instrumentos são guitarras acústicas, contrabaixo, tamboura, colheres, E da água pode 'bass oral "que é uma contínua improvisação vocal feita pelo percussionista. A banda é constituída por 9 músicos, incluindo 4 bailarinos que por vezes é alargado com cimbalom, acordeão, violinos e taragot.

Membros da Banda

József OLÁH (tamboura, guitar, vocals)
Géza BALOGH (guitar, vocals)
János JAKOCSKA (guitar, vocals)
János OLÁH (double-bass, vocals)
István NÉMETH (water can, oral bass)
Sándor HORVÁTH (vocals, spoons)
Krisztián OLÁH (accordion)
Mária BALOGH (vocals)
Mária VÁRADI (vocals)



Paszab, Magyarország


Romano Biljo Gypsy


LIVE AT PALÉO FESTIVAL | NYON (CH) | 2006 - Shuckar Jahka

terça-feira, 27 de maio de 2008

APRECI tenta impedir entrega de prêmio cultural

Ciganos do Paraná tentam impedir entrega de prêmio cultural

Luciana Cristo [24/05/2008]

Foto: Átila Alberti

Cláudio: “Impedir entrega”.

O Prêmio Culturas Ciganas, que será entregue hoje - dia em que é celebrado o Dia Nacional do Cigano -, no Rio de Janeiro, não vai ser comemorado pela Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci) no Paraná.

Suspeitas de vazamento de informações e em relação aos critérios de seleção fizeram com que representantes da Apreci entrassem com ação no Ministério Público do Paraná (MP-PR) para que o edital seja embargado.

Publicado no Diário Oficial da União no último dia 5, o resultado já era conhecido pela Apreci desde 29 de abril, o que caracterizaria, para eles, um concurso de “cartas marcadas”. “O objetivo era impedir a entrega do prêmio hoje, mas a lentidão do MP não permitiu que isso acontecesse”, afirmou o presidente da Apreci, Cláudio Iovanovotchi.

O reforço de características místicas sobre os ciganos é o que a Apreci pretende evitar. “Estamos impugnando todos. Não queremos apoiar o místico e o folclórico, mas sim trabalhos que demonstrem como os ciganos pensam e quais as suas dificuldades. Só assim vamos gerar conhecimento sobre a nossa cultura”, defende Iovanovotchi.

A escolha dos trabalhos também foi criticada por contemplar pessoas não-ciganas, o que seria contra as regras do edital. Segundo a Apreci, dos 20 premiados, 12 não são ciganos. “A idéia é sermos os protagonistas e não algumas pessoas que estão apenas tentando um nicho econômico. Isso vai causar um prejuízo cultural sério e nos preocupamos com o que vai ser do produto final”, alertou o presidente da Apreci. O prêmio totaliza R$ 200 mil para as iniciativas e recebeu quase 130 inscrições nesta primeira edição.

Resposta

A Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SID/MinC) garantiu que não houve vazamento de informações. Por e-mail, o MinC informou que a comissão, composta por representantes dos ciganos, técnicos e dirigentes do MinC, atuou de forma imparcial. “Vale ressaltar que não houve registro algum de impugnação ao Edital Regulador do Concurso e a nenhum dos seus critérios de seleção ou a qualidade de candidatos, notadamente, parentesco entre propositores”, afirmou a SID. Em relação à autenticidade da origem étnica dos candidatos, o MinC afirmou que optou pelo auto-reconhecimento declarado na apresentação da proposta concorrente, que consta no item 5.1 do edital.

Campanha

O Ministério da Saúde aproveita este Dia do Cigano para iniciar uma campanha nacional de combate ao preconceito contra ciganos no Sistema Único de Saúde (SUS) e para garantia de atendimento a esse grupo. Por não terem endereço fixo, os ciganos sofrem com o atendimento no SUS, pois muitos dos programas do Ministério vinculam o atendimento ao local de moradia. Com a campanha, a intenção é saber quais as doenças mais freqüentes, os hábitos alimentares e as demandas dos ciganos.

FONTE PARANA ONLINE

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Registros de um dos Primeiros Ciganos no Brasil

JOÃO DE TORRES, CIGANO DEGREDADO PARA O BRASIL (grafia do original)

1574

Dom sebastiam etc. faço saber que Johão de torres, çiguano preso no lymoeyro, me euju diser per sua petição que estamdo na villa de momtalluão morador e jmdo e vjimdo à castella fora preso he acusado pela justiça, dinzemdo que semdo ley deste Reyno que toda geração de çiguanos não vjuesem neste Reyno e delle se sahyssem em çerto tempo e por elle não ser sabedor da tall ley por jr he vyr há castella, fora preso he acusado pela justiça, elle he sua molher Amgylyna e condenado per sentença da mor allçada, elle em çimquo anos de degredo pera as gualles e açoutados publicamente, cõ baraço e preguão, e a dita sua molher se sahyrya do Reino em dez dias, visto como se não mostraua certidão de quamdo hally fora pobrjcada em momtalluão, homde forão presos, como todo se mostrua da sentença que oferecia. He por que dos haçoutes, baraço de preguão hera feita execuçam e a dita sua molher hera fora do Reyno e elle ser presente, estaua no lymoeiro, homde perecia há mjimgoa, e hera fraquo he quebrado, e não hera pera serujr em cousa de mar e muito pobre, que não tinha nada de seu, me pedya que ouuese por bem se sahyse loguo do Reyno ou que fose pera o brasyll pera sempre e podese leuar sua molher avendo respeito a pena que já tinha recebyda etc.; e eu vemdo que me asy dise he pedir emvyou, queremdo lhe fazer mercê visto hu parece como o meu pase (?), ey por bem e me praz se assy he como dis, de lhe cummutar os cimquo anos em que foy conenado pera as gualles, pelo caso de que faz menção, visto ho que halegua e declara, em outros cimquo anos pera o brasyll, homde leuara sua molher e filhos, visto outrosy com he feyta execuçam dos haçoutes; por tamto vos mamdo etc. na forma dada em allmerym a vii dias dabrill el rei nosso snr ho mamdou pelos doutores paullo affonso e amtonjo vaaz castello etc. dioguo fernandez a fez, ano do naçimento de nosso snr xpo de m ve lxxiiijo anos. Roque vieira a fez escreuer.

[Archivo Nacional, liv. 16 de Legitim. D. Seb. e D. Henr. fl. 189.]4

Asséde Paiva

www.ciganosbrasil.com



sexta-feira, 16 de maio de 2008

Nápoles em guerra aberta contra acampamentos ciganos

MANUELA PAIXÃO, Roma
Nápoles volta a ser notícia pelas piores razões, pois, nos últimos dias, converteu-se num cenário de guerra aberta contra os campos de ciganos. O saldo é de pelo menos seis acampamentos queimados, numa onda de cólera que estalou com a tentativa de rapto de um bebé de seis meses por uma rapariga romena, que foi perseguida por pais e vizinhos.

Napolitanos de todas as classes sociais voltaram a deitar fogo aos acampamentos já abandonados, para impedir que os ocupantes, de origem romena e balcânica, pudessem voltar dentro de dias para reconstruir um dos mais degradados subúrbios de Nápoles - Ponticelli.

Aos gritos e com actos de vandalismo, incitados pela multidão, iam dando vivas à destruição do bairro, hoje transformado num centro de crime, da Camorra, em particular do tráfico de mão-de-obra clandestina.

Na quarta-feira, em menos de duas horas, gangues organizados, lançaram o terror nas ruas de terra batida do acampamento. Às primeiras horas da manhã, a Itália assistia atónita às imagens que iam passando nas televisões: jovens armadas com cocktails Molotov atacavam com uma estratégia militar digna de um filme sobre a guerra no Vietnam e, no Iraque ou no Kosovo.

Com gasolina espalhada por toda a parte e o lançamento de garrafas incendiárias as línguas de fogo alastraram destruíram tudo o que encontraram.

É uma guerra contra um inimigo invisível que fugira horas antes. E agora, escondido atrás de árvores, sob pontes ou velhas casas, tenta proteger-se da multidão que grita: "Devem ser expulsos da Itália. Não devem mais raptar os nossos filhos."

A fumaca espalhou-se rapidamente e impediu a circulação dos carros. Os bombeiros tiveram dificuldades para dominar as chamas de 20 metros. E tudo isto passou em directo na televisão para toda a Itália ver.

E enquanto Ponticelli ardia, inflamava-se também o discurso político, com o assessor das Políticas Sociais de Nápoles, Giulio Riccio, a condenar a "agressão criminosa" aos campos e um documento oficial assinado por cinco conselheiros municipais a pedir a destruição dos todos os acampamentos habitados por romenos.

Tudo isto acontece numa altura em que já estava previsto o despejo dos ciganos romenos. No local será construída uma área residencial e um parque. A corrida das novas autoridades para iniciar os trabalhos, a 4 de Agosto, explica-se pelo facto de perder o financiamento público caso os prazos-limite não sejam respeitados.

Este tipo de projecto, na ordem dos 70 milhões de euros, não era oferecido a Nápoles há muito tempo. Já há dezenas de empresas candidatas à construção de casas.

Os incidentes registados em Nápoles, no Sul de Itália, levaram já as autoridades municipais da capi- tal italiana, Roma, de Turim e Mi- lão a anunciar ontem a criação de um comissariado para vigiar os romenos.

Em Nápoles há 2500 ciganos, mil da Roménia e 1500 dos Balcãs, segundo o grupo Opera Nomadi. Em Roma viverão 10 mil ciganos. Em Itália, ao todo, vivem de 130 mil a 150 mil, segundo as ONG, metade nacionais, 50 mil romenos e os restantes da ex-Jugoslávia.

Fonte: Diario de Noticias Internacionais

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Tremendas ciganagens

Eu nunca me fantasiei de cigano. Preferia pirata. Pirata rico.

Pirata rico era com calça de smoking, faixa de cetim vermelho na cintura e um brinco no lóbulo da orelha direita.

Pirata pobre tinha venda no olho, facão vagabundo de madeira na cintura, chapéu ridículo na cabeça.

Eu apreciava as ciganas. Ricas ou pobres. Ciganas, havaianas e tirolesas.

Só muito mais tarde é que as duras realidades da vida vieram me desancar no meio do salão desta vida.

Deixei de usar calça de smoking e brinco, esqueci a letra de Pirata da perna de pau, parei de cheirar lança-perfume.

Era terno e gravata, lotação, centro da cidade e 9 às 5 na agência de publicidade tentando convencer os tolos a comprar coisas de que não necessitavam.

Não era difícil. Chato apenas.

Ciganas, havaianas, tirolesas, todas sumiram. Passaram a vestir azul e branco de normalista, ou saia e blusa de vendedora das Lojas Americanas.

O carnaval é uma ilusão, diziam todos azulejos. Pura verdade.

E tome verdades puras e duras

Agora, aí estão as ciganas e seus respectivos fazendo seu próprio carnaval aqui em terras de Dona Rainha Elizabeth.

Os ciganos não são devidamente apreciados aqui.

Aquela versão de The Gypsy, que o Orlando Silva gravou, não faria o menor sucesso.

Até mesmo a gravação original, tão bonita no solo do tenorino Bill Kenny, eles, os britânicos adoram, mas a colocam numa distância irreal - você só encontra em CDs de antologias de sucessos dos anos 40.

Os ciganos, talvez por motivos fonográficos, talvez por serem mesmo misteriosos, convictos de suas próprias origens obscuras (dizem que gypsy vem de egyptian, egípcio, como a esfinge e o pai do namorado da falecidíssima princesa Diana), preferem manter um silêncio digno.

A dignidade, ao que parece, foi o que lhes sobrou. E o pé na estrada.

Tentaram, os politicamente corretos, apodar (apodar?) os ciganos de "viajantes", ou, como a mídia espalha aqui, travellers.

Na vida prática, é cigano ou gypsy mesmo. Beirando, ou se despencando, desaforo abaixo.

A cigana me enganou

Até mesmo os ministros de Estado estão sujeitos à proximidade ciganal.

Não adianta tentar fugir da realidade cigana. Não adianta fazer boca de siri no que diz respeito ao que acham ou não acham de cigano, cigana, viajante, sua prole e seguidores. (Parêntese para uma perguntinha: há algo mais triste no mundo do que, não sendo cigano, sair mundo afora atrás deles?)

Vejamos o caso de Tessa Jowell, nomeada ministra para os Jogos Olímpicos de 2012 a se realizarem aqui neste país.

Não é bem uma seguidora ou vivandeira de ciganos. A ilustre mora numa boa casa de campo no condado de Warwickshire.

Mês passado, num fim-de-semana, uma leva (se esse é o plural dos ciganos-viajantes) da turma errante aproveitou a brecha e se instalou de armas e bagagem num hectare adquirido legalmente, algum tempo antes, por um representante do pessoal em questão.

Possivelmente, compareceu à agência imobiliária encarregada da venda sem brinco na orelha ou lenços na cabeça e pescoço.

Pagou bonitinho a quantia exigida pelas terras e, no sábado e domingo seguido de feriado, mudou-se com suas caravanas, alugou escavadoras para abrir facilidades sanitárias, instalou um sistema de suprimento de água e puseram-se todos a fazer as coisas que os ciganos-viajantes supostamente fazem.

Não creio que seja apenas tacar estacas no chão anunciando que lêem mãos ou vêem o futuro das pessoas em bolas de cristal.

Que fique claro, os ciganos também não roubam criancinhas para a procriação de novos ciganinhos-viajantes.

Um dos ciganos, entrevistado por uma das inúmeras reportagens que vivem cobrindo este país, disse que, para ser franco, não sabia que estava na proximidade de uma olímpica ministra.

Nome do homem era e é Zack Follows, tem 31 anos, 4 filhos e convidou Tessa Jowell para vir visitá-los, a ele e seus companheiros de ciganagem-viajante, quando bem entendesse.

Acrescentou um fato interessante: "Somos seres humanos. Temos de fazer habitáveis nossas cercanias."

A ministra Tessa Jowell teve o cuidado de não se pronunciar a respeito da mudança. O que já dá uma pala, confere?

Nada ter a observar ou acrescentar, principalmente em se tratando de político, conta mais de um hectare da história.

E, por falar em história, aí está sua moral: qual é a novidade, qual é o problema dos ciganos-viajantes se instalarem onde bem entenderem? Basta cumprir as devidas exigências legais.

Cigano não é notícia. Preconceito contra é. Não vi nota nenhuma defendendo (de que, meu Senhor, de que?) os ciganos. Ou mesmo os viajantes.

Como ex-cigano rico, sinto-me atingido em meus brios.

De sacanagem, passarei este fim-de-semana de brinco e calça de smoking.

Vendo em DVD aquele trecho de O toque da maldade, do Orson Welles, onde Marlene Dietrich, de cigana, moreníssima, faz bocas esplêndidas e diz coisas maravilhosas.

Fonte BBC Internacional

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Governos europeus não adotam medidas para integrar os 10 milhões de ciganos


Alicia García de Francisco Redação Central, 7 abr (EFE).- Os Governos europeus têm conhecimento dos problemas dos ciganos, mas não adotam medidas para integrar esta minoria formada por mais de dez milhões de pessoas que sofrem ataques violentos, são impedidos de imigrar e, sobretudo, são vítimas de preconceitos por parte do resto da população
.

Amanha 8 de Abril é o Dia Internacional dos Ciganos e, apesar de os Governos europeus terem "tomado consciência" da precária situação na qual a maior minoria étnica da Europa vive, poucos foram os passos dados para melhorar suas condições de vidas, afirmou hoje à Agência Efe o responsável da Divisão de Ciganos do Conselho de Europa, Michael Guet.

"Foram registradas algumas melhorias nos últimos dez anos", disse, exemplificando com o fato de haver uma melhor representação dos ciganos em estruturas políticas, "mas é só o primeiro passo" e resta muito a fazer em educação, acesso ao mercado de trabalho, liberdade de deslocamento e inclusão social.

Há "grandes problemas, principalmente devido aos preconceitos contra os ciganos", razão pela qual o Conselho da Europa iniciou em 2006 uma campanha para tentar combater a questão.

A proposta, chamada Dosta, inclui formação de jornalistas, concursos em escolas e programas de sensibilização tanto da população quanto das autoridades locais.

É uma iniciativa que já funciona na região dos Bálcãs e que este ano será ampliada para Ucrânia, Moldávia, Itália e, possivelmente, Romênia.

Estudos recentes citados pela Comissão Européia (CE) assinalam por exemplo que 79% dos tchecos não gostariam de ter ciganos como vizinhos, enquanto na Alemanha o percentual é de 68%.

"O tratamento dos ciganos é, atualmente, um dos problemas políticos, sociais e de direitos humanos mais urgentes os quais a Europa enfrenta", acrescenta a CE.

Há pouco mais de um ano, o comissário europeu de Emprego e Assuntos Sociais, Vladimir Spidla, afirmou que a situação dos ciganos era "inaceitável do ponto de vista ético, social e humano" e a qualificou de "ameaça para a coesão social na Europa".

Apesar disso, pouco mudou desde então.

No dia 31 de janeiro deste ano, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução na qual defendia "erradicar" a favelização como forma de propiciar a integração social da minoria cigana.

O texto afirma que, neste tipo de assentamentos, "não existem normas de higiene nem médicas de qualquer tipo" e indica que "um grande número de crianças ciganas morrem em acidentes domésticos, em particular, incêndios".

Além disso, denuncia a exclusão que a população cigana sofre nos sistemas educacionais e médicos de alguns países da União Européia (UE).

E, embora a situação seja especialmente ruim no Leste Europeu, onde se concentra a maioria da população cigana do bloco, os problemas se repetem na maioria dos países onde vivem membros desta etnia.

Os ciganos se concentram principalmente na Romênia (com 1,8 milhão de pessoas desta etnia) e Bulgária (800 mil), mas há grandes povoações em Espanha (cerca de 650 mil), Hungria (600 mil), Sérvia (600 mil), Eslováquia (420 mil), França (400 mil) e Reino Unido (300 mil), segundo estimativas do Conselho da Europa.

E os preconceitos da população européia contra os ciganos são uma das razões pelas quais estas pessoas encontram grandes empecilhos na hora de viajar a outro país.

A situação é particularmente delicada na Itália, onde há alguns meses 39 ciganos romenos foram expulsos por motivos de segurança; na França, onde os obstáculos administrativos impossibilitam que possam conseguir uma permissão de estadia nos três meses determinados pela lei; e no Kosovo, de onde são reenviados para Sérvia ou Macedônia.

Por essa razão, o Conselho da Europa vai elaborar um relatório este ano para ter "uma visão de conjunto das migrações de ciganos e de por que há tantos obstáculos em nível europeu" para sua movimentação, afirmou Guet.

Também é preocupante o aumento dos movimentos violentos contra os ciganos por parte de grupos neofascistas, situação que ocorre tanto no leste como no oeste da Europa.

Soma-se a isso as expulsões de ciganos de países da Europa - apesar de que muitos deles procedem de Estados-membros da União Européia -, que são realizadas, em algumas ocasiões, com violência policial, à noite e quando a temperatura ambiente é menor que 10 graus Celsius abaixo de zero, disse o especialista.

Segundo relatório do Banco Mundial (BM), em alguns casos os ciganos são até dez vezes mais pobres que o resto da população européia; sua expectativa de vida é entre 10 e 15 anos menor que a média e sofrem altos níveis de discriminação nos setores de educação, trabalho, casa e saúde.

Apesar de os países terem se comprometido com reformas, "é preciso admitir que levará muito tempo para conseguir apoio popular entre as maiorias das povoações", afirma o BM. EFE agf/db

Fonte Jornal Ultimo Segundo

sexta-feira, 11 de abril de 2008

MORTE

A morte é uma curva na estrada.

Morrer é só não ser visto.

Fernando Pessoa

F

alemos da morte... É um terror que nos afeta, é a origem de nossos piores pesadelos, mas na verdade ela é nossa garantia de vida. Imagine que nossa vida só vale porque sabemos que morreremos algum dia e que seja muito longe esse dia. Se a morte não existisse, a vida seria uma chatice imensa, uma monotonia inefável, um sonho mau, sem fim: a não-vida. Já imaginou este mundo sem a bendita morte? Os matusaléns se arrastando por aí; os doentes terminais que jamais terminariam o seu sofrer; os acidentados; os queimados... Isto sim, seria um horror. Acho até que aquele pensamento de René Descartes: Cogito ergo sum careceria de sentido ontológico se não existisse a morte. Assim, considero a morte a mais justa da condição humana. Deus foi piedoso ao nos conceder a mortalidade. Ele, sapientíssimo, boníssimo, sumo da justiça deu ao homem a vida e a morte: o círculo, o Samsâra. São partes deste círculo as fases: nascer, crescer, trabalhar, vencer (ou ser derrotado) e... morrer. Alguns até admitem o renascer mas fiquemos por aqui. Na verdade, ao morrermos nascemos para a vida eterna.

Quando eu me for (não ficarei para semente), não chorem por mim (isto caso haja alguém com esta intenção), considerem que a renovação humana é necessária. Eu terei cumprido meu destino (bem ou mal). Digo destino, porque tudo estava escrito. Eu não tive livre-arbítrio (ninguém o tem). A morte é só um evento e conseqüência da vida. Sobre morto e morte os ciganos têm uma visão pragmática digna de registro. Ela (morte) e o morto não se leva em conta; a vida, sim é importante. Anoto um diálogo de George Borrow, sábio, pregador, inglês, que dominava mais de cem idiomas (o Romani também), quando foi reconhecido por um antigo amigo cigano, após alguns anos de ausência. O diálogo está às p. 165/166, no livro Lavengro (mestre das palavras):

“Eu vagava por uma charneca e cheguei a um lugar onde um homem estava sentado perto de árvore nodosa, seus olhos intencionalmente voltados para o sol vermelho que ora se punha”.

    É você Jasper?’

    Verdade, irmão!

    Não nos vemos nos últimos anos.

    E deveríamos, irmão?

    O que o traz aqui?

    A luta, irmão.

    Onde estão as tendas?

    No lugar de sempre, irmão

    Alguma novidade desde que parti?

    Duas mortes irmão.

    Quem morreu, Jasper?

    Papai e mamãe, irmão.

    Onde eles morreram?

    Onde foram enviados, irmão.

    Onde está a senhora Herne?

    Está viva, irmão.

    Onde está agora?

    Em Yorkshire, irmão.

    Qual é a sua opinião sobre a morte, senhor Petulengro? Eu disse enquanto sentava ao lado dele.

    Minha opinião sobre a morte, irmão é a mesma dada pela antiga canção do Faraó, que ouvi minha avó cantar:

      Canna marel o manus chivios ande puv,

      Ta rovel pa leste o chavo ta romi.

      [quando um homem more é enterrado

      Seu filho e sua mulher pranteiam por ele]

Quando um homem morre, ele é jogado na terra, sua mulher e criança lamentam por ele. Se ele não tem mulher e filho, então choram seu pai e mãe, suponho; mas se ele é só no mundo

Então ele é enterrado e não se fala mais neste assunto.

    Você pensa que este é o fim do homem?

    É o fim dele, irmão, mais é piedade.

    Por que você diz assim?

    A vida é doce, irmão

    Você pensa assim?

    Penso assim! Há a noite e o dia, irmão; ambos coisas doces; o sol, a lua e as estrelas, irmão: tudo coisas boas. Há, igualmente, o vento e calor. A vida é muito doce, irmão, quem desejaria morrer?

    Eu desejo morrer ——

    Você fala como (górgio) não-cigano, que é o mesmo que um tolo. Se você fosse um romani você falaria sabiamente. Desejo de morrer... verdade! Um romani Chal (cigano) desejaria viver para sempre!

    Mesmo na doença, Jasper?

    Há o sol e estrelas, irmão.

    Na cegueira, Jasper?

    Há o vento e o calor, irmão; se eu puder somente senti-los, eu me alegraria em viver para sempre. Basta! Vamos entrar agora em nossas tendas e pôr nossas luvas. Tentarei fazê-lo sentir como é bom viver, irmão.

Nesta conversação, podemos sentir a simplicidade do cigano, para o qual a alegria de viver é tudo. Ele vive intensamente o dia-a-dia e não se importa com o além, com o amanhã e com o ontem, segundo sua filosofia:

Amanhã será o que tem que ser; ontem foi o que tinha que ter sido. E, basta!

Para que não se diga que externo opinião pessoal vou, em seqüência, transcrever do livro de Jean-Paul Clébert o que ele nos ensina sobre tema tão sombrio (morte) e como ciganos de diversos grupos encaram tal dilema. Está escrito em The Gypsies, subitem Death and funeral rites, pp. 187/188/189.

    Cigano não morre na cama. Como alguns povos como esquimós [inuits] que fogem da vista de outros para morrer, na neve. Como prova final de desapego, o cigano entrega sua alma fora da tenda ou da caravana. Não mais do que o nascimento, pode a morte poluir o lar, mesmo temporariamente. Assim, a mulher dá à luz em frente à tenda ou caravana. A regra, mesmo para a pessoa morrendo, é que a porta deve estar escondida atrás da tenda, ou então em um buraco feito na parede da choça. Obviamente, o uso de caravana destruiu este rito. Durante a doença de Mimi Roseto, a matriarca dos ciganos piemonteses, os membros da família tiraram-na da cama e a puseram em um colchão ao chão, do lado de fora.

    Os serviços funerários começam antes da morte, à luz de vela e som de lamentações. Mas, geralmente os assistentes se conformam em esperar, sem mostrar demasiada emoção; a qual não é mostrada externamente, até depois da morte. Os indivíduos continuam o ‘papo’, fumam e bebem diante da pessoa que está morrendo.

    O corpo do defunto é lavado em água de sal (ciganos da Inglaterra), é vestido com novas roupas, freqüente um grande número (cinco, saias se mulher). Entre os kalderash, a pessoa que morreu, é preparada, se viveu assim, durante a vida. O padecente tem a satisfação de se ver bem vestido para a ‘grande-jornada’.

    Anunciada a morte, a tribo inteira começa a lamentar e chorar, mesmo gritando. Homens e mulheres soluçam e choram amargamente, mostrando muita tristeza e não há razão para acreditar que sua dor seja fingimento. Entre alguns grupos, as lamentações continuam a noite inteira e então trocam o ritmo do canto. Suas faces são literalmente contorcidas pelo sofrimento. Mesmo crianças gemem como se tivessem sido surradas.

    O rasgar de roupas começa algum tempo depois da morte, algumas vezes três dias após, o corpo é colocado no caixão, mãos cruzadas no peito ou ao longo do corpo (ciganos cristãos dos Bálcãs). Os ciganos ingleses e escoceses põem jóias no morto e alguma moeda de ouro na urna. De acordo com Jules Bloch, com eles são colocados alguns objetos úteis para a jornada no outro mundo: garfo, faca, violino... Anteriormente, entre os ciganos espanhóis, uma guitarra ou mandolim foi colocada nos braços de um falecido. Então, um membro de sua família acusou-se em voz alta de ter cometido pecados e desafiou-o: “toque e se fiz errado, possa sua música tornar-me surdo; mas se fiz certo, não se mova e receberei absolvição.”

    Antes do enterro, nos Bálcãs o morto é carregado em uma eça e exibido pelas estradas ou ruas. Na Romênia e Rússia ele é levado sem cobertura, isto é usado na Europa Ocidental.

    O enterro tem diversas formas. Há influências cristãs e muçulmanas. Se o cigano for católico, o enterro é feito conforme os ritos da igreja, mas os detalhes permanecem típicos dos ciganos. Assim, em adição à mão de terra, jogada sobre o caixão, algumas vezes moedas o notas são jogadas. A aspersão de água é feita à mão, o aspersor não é usado. Na Inglaterra isto assume inesperada feição: a água é substituída por cerveja. No túmulo do famoso Boswell, um cigano-chefe que morreu em 1820, em Doncaster, os acompanhantes derramaram um jarro de chope. Este ato foi repetido durante anos, na ocasião da peregrinação ao cemitério. Na Europa do Leste os assistentes bebem vinho em volta do túmulo do morto, brindando: ‘Te avel angla ei (Parni), ei sev le (feroski); em honra de (Parni), daughter of (Fero)’1

    Jules Bloch nos dá surpreendente descrição do funeral de uma mulher morta em Londres, em 1911: ‘... Antes de arriar o caixão, um buraquinho foi feito nele, adiante do pé esquerdo. Isto pode ser comparado com o costume romeno, onde são feitos dois buracos acima da cabeça, para respiração e de acordo com uns e outros, para ouvir melhor as lamentações. Uma vez que o caixão tenha sido baixado, o chefe derrama um pouco de rum ao lado do caixão, degusta, ele mesmo, o rum e passa a garrafa em volta.’

    Usualmente, músicos tocam seus instrumentos durante a descida à sepultura. Algumas vezes, durante a transferência para o cemitério, parentes distribuem dinheiro para as testemunhas, especialmente crianças. Entre alguns grupos, crianças não assistem funerais.

    Para ter certeza que a morte realmente ocorreu, os kalderash de Paris e da Suécia (?) furam o coração de o morto com longa agulha. Isto é um rito ordinário pra proteção contra fantasmas ou mulé, o que chamamos alma.

    No passado, principalmente na Europa Central, o real rito funerário de um chefe cigano tomou um caráter mais simbólico: o defunto foi colocado em um carroção pintado de branco com intenção que ele faria a jornada de migração em reverso (retorno). Isto pode demorar um longuíssimo tempo, quando muitas fronteiras têm de ser cruzadas. Então, o rasgar de roupas aconteceu em segredo total, e nenhum não-cigano pode estar presente.

    Outro costume que está desaparecendo, que nos parece baseado em nada, mas suspeito contar, teria a pessoa morta de ser lançada em um rio. O escritor germano Achim von Arnim, na sua história, Isabella do Egito, usou [esta lenda] em ritos funerários ciganos (suas fontes não foram checadas) e registrou que quando um cigano é enforcado, seus companheiros pegam seu corpo durante a noite e deixam-no ser levado pela corrente de um riacho ‘a fim de que ele possa encontrar seu povo’. Finalmente, é certo entre as tribos da Ásia Menor que depois de alguém ter morrido, uma jovem discretamente dirige-se sozinha ao banco de um rio e faz deslizar pequena prancha, onde pôs vasos nos quais beberam e acenderam velas. Esta tradição parece ser de origem indiana.

    Alguns ciganos quebram o dedo mindinho do morto, antes de pô-lo na cova e com linha vermelha amarram ao dedo quebrado um pedaço de prata. Isto é relativo à tradição do óbolo de Caronte.

    Após o enterro, é necessário repartir as roupas e coisas pessoais do morto. Aqueles que podem ser descartados da caravana, são jogados, queimados, ou... vendidos. Em todos os casos nenhum membro da tribo herda nada dele. É possível que o sacrifício de cavalos seja parte deste costume. Obviamente, queimar o carroção é um enorme sacrifício. Na maioria dos casos, os ciganos se satisfazem em repassá-lo para algum membro, de outra tribo ou ao mercador de ferro velho (sucateiro). Esta última concessão é aceitável: repintá-lo completamente, antes de usá-lo de novo como habitação.

    Permanece o assunto pra se proteger contra a possível volta do morto na forma de fantasma, vampiro ou mulé. Os ciganos húngaros colocam no túmulo um espinheiro, que é suposto evitar que o morto saia. Na Grécia, uma pedra pesada (freqüentemente confundida como lápide) preenche a função. Na Inglaterra, Irlanda e Escócia os ritos permanecem estanhos: é proibido pentear o cabelo, lavar-se maquiar-se por considerável período.

    Precisa-se ter capacidade para comparar estes costumes com europeus e o folclore do oriente-médio. A propósito, como exemplo, aqui é uma conexão que pode se estabelecida entre ritos ciganos da Espanha e os do País de Gales. Na Espanha, um leitor acabou de ver um membro de a família fazer autocrítica diante do túmulo; em Gales, eles têm ‘o bebedor do pecado’. Este é geralmente um pobre-diabo, pária, que sob pagamento em alimento, torna-se expiador de pecado, para o morto.

    Os ciganos não têm culto em cemitérios. Uma vez o enterro terminou, o lugar do enterro praticamente é esquecido. Somente os sintos2 vão regularmente ao túmulo dos que partiram, em dias santos de guarda; mas, o nomadismo e peregrinações freqüentes dificultam a visita. Quando acontece, os ciganos comem, bebem perto da sepultura, cuidando-se para não esparzir bebida e comida neles próprios.

    Mencionemos finalmente, os cantos funerais ciganos, que incluem alguns dos mais belos poemas. Eles são improvisadores e nunca repetem. Este caráter efêmero confere-lhes grande valor, mas como escrever estes salmodiosos cantos em voz grave, que cantam em repouso do morto e cheio de bazofias?

Vamos sintetizar o testemunho de Grellmann3. Ele nos ensina (tradução livre):

    Cigano morre de velho. É muito incomum morrer cedo ou ainda criança. O amor pela vida vai além de nossa capacidade em descrevê-lo, mesmo nas mais perigosas doenças. Eles acreditam nas forças da natureza ou na boa-sorte.

Hoje em dia os tempos são outros e ciganos já recorre a medicina dos gadjês, mas permanecem em vigília constante perto do hospital até que o rom tenha alta.

FINIS

Asséde Paiva

www.ciganosbrasil.com

abril, 2008

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Direitos ciganos


Cartilha do governo federal busca tirar da marginalidade o povo nômade, que pode somar um milhão de pessoas no Brasil

Por Flávio Novaes

Cobrador infalível, com dente de ouro, ladrão de criancinhas, exímio comerciante e, ainda, nômade eterno. O cigano do imaginário comum está com os dias contados se depender da cartilha Povo cigano – O direito em suas mãos, lançada quinta-feira passada, em Nova Iguaçu, interior fluminense. A obra, publicada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, busca tirar da marginalidade o povo que, de acordo com a tradição, não tem pátria e se sente estrangeiro na terra natal.

A publicação, voltada exclusivamente para o grupo, reúne 29 reivindicações apresentadas durante a 9ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, em 2004, e a 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, em 2005, ambas realizadas em Brasília. O livreto, que traz ainda informações sobre história, costumes, direitos e curiosidades, foi editado em parceria com as secretarias Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (MinC) e a Fundação Santa Sara Kali. “Ali estão as demandas apresentadas por eles e muitas dicas também, para que eles aprendam a exercer, usufruir e garantir seus direitos”, explica Perly Cipriano, subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos. “Vamos ainda distribuir as cartilhas em todos os acampamentos ciganos pelo país afora”, completa, explicando uma das ações do projeto para o resgate da cidadania. Os ciganos baianos já aguardam a visita.
Orientações sobre aposentadoria, educação, segurança, justiça e Bolsa Família integram a publicação. O passo-a-passo para integrar o programa federal Bolsa Família, por exemplo, é apresentado com destaque. “O problema é que eles precisam registrar os filhos e comprovar que não têm renda, o que cria dificuldades para obter o benefício”, afirma Cipriano.

Além da cartilha, cartazes com informações consideradas essenciais serão fixados nos acampamentos. Segundo o subsecretário, o telefone de entidades como o Ministério Público terá papel essencial para a população. “Quando alguém chegar reprimindo, eles vão ter a quem recorrer”, afirma.

Um das principais características do cigano, porém, está em baixa, ou melhor, estática: o nomadismo. De acordo com os especialistas, o aumento da violência e as comodidades da vida moderna fazem vigorar a idéia de que o objetivo é permanência, forçada ou não. “Hoje, mais da metade do povo está sedentário”, afirma a advogada Mirian Stanescon Batuli, presidente da Fundação Santa Sara Kali, que homenageia a única cigana santificada na Igreja Católica.

Militante das causas do seu povo, Batuli mora em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, local onde existe grande número de ciganos, o que foi usado como justificativa para o lançamento da campanha. Batuli considera que, desde a realização da Conferência Nacional, a instituição do 24 de maio como o Dia Nacional do Cigano é uma das conquistas mais importantes para o povo. A data é dedicada a Santa Sara Kali, padroeira universal dos ciganos.

A SEDH não tem o número exato de ciganos no Brasil, em acampamentos ou já fixos nas cidades. Estima-se que pode chegar a um milhão. O grande número e o caráter próprio da nação cigana, inquieta pelos quatros cantos do mundo, dão margem a diversas lendas. A advogada Batuli rebate as afirmações sobre o povo que, segunda ela, são típicas da mentira contada muitas vezes até se transformar em uma verdade. “Tudo o que foi escrito sobre cigano, foi escrito por não-cigano”.

Povo invisível - Na Bahia, a referência na luta pelos direitos dos ciganos é o padre Wallace Zanon, coordenador nacional da Pastoral dos Nômades e administrador da Paróquia de Cora Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, no extremo sul do estado. “A cartilha chega com atraso, ninguém olhou para eles, parece que eles são um povo invisível”, afirma.

Também não há o número exato de ciganos na Bahia. Segundo o padre, eles estão espalhados, principalmente no extremo sul, em municípios como Teixeira de Freitas, Itamaraju e Eunápolis, passando pelo sertão, em Irecê, e no recôncavo, chegando a Camaçari e Salvador. “O preconceito impede que eles tenham acesso à escola e possam tirar documentos”, diz ele, que há 20 anos trabalha com os povos ciganos. “O Aurélio antigo definia o cigano como ‘sujeito trapaceiro’. Mas conseguimos mudar isso, já é um avanço”, finaliza.

Fonte Correio da Bahia