quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Ciganos Evangelicos


Ciganos têm recebido bem a Palavra de Deus

Preocupação com minoria cigana cresce entre evangélicos brasileiros

Eles vivem, costumeiramente, sob tendas, ganham a vida com o comércio, não se ligam a governos, reis, eleições... Enfim, são livres. Os ciganos são totalmente desligados de coisas como residências fixas e não existe consenso sobre a origem deles. A versão mais aceita, segundo o presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana (APRECI), Cláudio Iovanovitchi, aponta que esse povo surgiu no norte da Índia, na região onde hoje está o Paquistão, por volta de 4 mil anos atrás. A partir dali, eles se espalharam pelo mundo, seguindo suas crenças. Estimados em 50 milhões, dividem-se em dois grupos no Brasil: 16 mil ciganos Rom, no sul do país, e 330 mil ciganos Calon, no Nordeste. Mas eles, que são conhecidos como aqueles que não se curvam à burocracia, têm se rendido à grandeza de Deus.

O interesse desse povo pelo Evangelho tem feito com que muitos ministérios se preocupem e comecem a se mobilizar para atendê-los e acompanhá-los no processo de crescimento espiritual. Prova disso é a Missão Amigos dos Ciganos (MACI), localizada em Curitiba (PR), que tem se dedicado à evangelização desse grupo. Em razão das dificuldades e do preconceito que os ciganos enfrentam, o pastor Igor Shimura, coordenador do projeto, e alguns missionários, convidam igrejas a desenvolverem pequenos ministérios, montando equipes formadas por quem se sente chamado para este desafio.

A estratégia tem dado certo. Hoje, muitos já apóiam a visão. Um exemplo é a Igreja Batista Aliança, que fica no bairro Vila Sandra, em Curitiba, local muito freqüentado por ciganos. Os membros do ministério iniciaram um trabalho social e evangelístico. “As atividades deste ‘núcleo de amigos dos ciganos’ acontecem todas as terças-feiras, quando é realizado um culto na tenda do líder do acampamento. Nós não só ministramos a Palavra de Deus, como prestamos assistência médica e viabilizamos as condições para que eles consigam fazer seus próprios documentos de identificação. Não somos assistencialistas, mas os abençoamos com aquilo que julgamos necessário”, diz o pastor Shimura.

Por serem nômades e manterem seus hábitos e tradições culturais, os ciganos enfrentam dificuldades geradas pelo preconceito. Uma delas é o ensino escolar dos filhos. Para Shimura, por se sentirem discriminados, eles também acabam discriminando e construindo uma espécie de barreira, o que dificulta o relacionamento e a aproximação das pessoas, principalmente daquelas que vão falar de Jesus. Por isso, conquistar a confiança e mostrar que não existe nenhum interesse, a não ser o de falar do amor incondicional de Deus, é essencial.

Um evangelismo que acontece dentro de um acampamento de ciganos recebe uma atenção toda especial. Aqueles que vão falar da Bíblia e dos ensinamentos de Jesus têm cuidados e preparos, inclusive referentes às roupas. As missionárias sempre se vestem de acordo com as mulheres ciganas. Usam saias coloridas e blusas de meia manga. O mesmo fazem os homens, que sempre usam calças e blusas de manga comprida. Tudo para evitar ciúmes e conflitos entre os casais do grupo. Segundo a missionária Sheila Moreira, uma das coordenadoras da MACI, falar de Deus a este segmento é uma experiência diferente. No entanto, mesmo com as inúmeras dificuldades, torna-se gratificante. Ela afirma que ao se converterem, os ciganos perdem alguns de seus costumes, como o uso de bebidas alcoólicas em suas festas e a leitura de mãos, não mais permitida, uma vez que a Bíblia condena a previsão do futuro. Mas muitos de seus hábitos ainda são mantidos, até para preservar sua cultura e tradições.

E não é só no sul do Brasil que igrejas têm se mobilizado. Em Campinas, interior de São Paulo, onde há a maior concentração cigana do Brasil – mais de 400 famílias – foi fundada, em 1987, a primeira Igreja Evangélica Pentecostal Comunidade Cigana, freqüentada hoje por cerca de 900 ciganos. No Mato Grosso do Sul, a Missão IDE é coordenada pelo pastor Klaus Simon e tem dado muitos frutos. O mesmo se pode dizer da Assembléia de Deus de Andradas, em Minas Gerais.

Em Santa Fé do Sul, na zona oeste de São Paulo, os Amigos dos Ciganos contam com o apoio do pastor Artaxerxes Fernandes, coordenador do Ministério Calon. Segundo ele, esse trabalho representa um enorme desafio missionário, já que os ciganos ficam três meses na cidade e os outros nove passam viajando. É um tempo que, mesmo curto, faz muita diferença no discipulado. Um exemplo disso é o do cigano Valdir, que já participou de diversos cursos sobre missões e, hoje, é presbítero da igreja e um cooperador na tarefa de levar o Evangelho ao seu povo.

Um relatório publicado pela Igreja Central Cigana, localizada na França e responsável pelos templos evangélicos dos ciganos brasileiros, informou que existem mais de 1.900 ciganos convertidos a Cristo no Brasil. O documento afirma, ainda, que os ciganos estão se organizando em igrejas evangélicas em 36 países do mundo.

Fonte: Ana Cleide Pacheco - http://www.elnet.com.br/

Atualizando o Post

Segue Video de um Culto na Gipsy Church em Los Angeles EUA




sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Ciganos devem ser atendidos pelo SUS


Justiça fixou multa de cinco mil reais caso atendimento seja negado.

Os membros da etnia cigana devem ter todo e qualquer tipo de tratamento de saúde, previsto nas normas regulamentares do Sistema Único de Saúde (SUS), ainda que não residam em Feira de Santana ou na Bahia. A decisão, em caráter de antecipação de tutela (liminar), é da Justiça Federal em Feira de Santana, que acolheu nesta quinta‑feira, 13 de dezembro, ação civil pública proposta ontem pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a União, o estado da Bahia e o município.

O MPF acionou a Justiça a fim de garantir atendimento médico imediato ao cigano Z.G., vítima de Linfoma de Hodgkin clássico, uma neoplasia maligna que afeta a medula óssea e o sistema imunológico. Apesar da gravidade da doença, a Secretaria Municipal de Saúde negou atendimento ao cigano sob a justificativa de que ele não residia na cidade.

O juiz federal substituto Marcos Antônio Garapa de Carvalho fixou multa diária de cinco mil reais, caso o cigano não seja atendido pelo SUS, e multa pessoal de mil reais por dia à Secretária Municipal de Saúde de Feira de Santana, Denise Mascarenhas, em caso de descumprimento da decisão. O MPF tomou conhecimento do caso de Z.G por meio de uma representação de um professor da Universidade Estadual de Feira de Santana. De acordo com a representação, o paciente não teria condições financeiras para arcar com os custos do tratamento e, ao recorrer ao SUS, teve o pedido negado, mesmo diante da gravidade da doença. O professor, que é também cigano, apresentou ao MPF relatório médico do quadro clínico de Z.G, informando que a demora no início da quimioterapia poderia provocar a proliferação da neoplasia e levar o paciente ao óbito.

O procurador da República em Feira de Santana Vladimir Aras afirma que não há Defensoria Pública da União no município, o que impõe a atuação do MPF no caso. Aras ressalta, ainda, que por força de previsão constitucional, o SUS deve ser universal e gratuito, para todos os cidadãos, independentemente do domicílio, raça, cor, sexo, religião ou qualquer forma de discriminação que atente contra a dignidade da pessoa humana. Na concessão da tutela antecipada, o juiz fortaleceu os argumentos da ação civil pública do MPF e reforçou que o Brasil, sendo um país plural e que repudia qualquer tipo de racismo ou discriminação, não pode negar atendimento médico a quem dele precisa, pelo fato de a pessoa não ter um endereço.

Os réus ainda podem recorrer da decisão.

Número da ação para consulta processual: 2007.33.04.020625‑0.

Gladys Pimentel


Fonte: PRBA

domingo, 9 de dezembro de 2007

Vera Bila Paso Panori



A Cantora Vera Bila nasceu em Rokycany em 22 de Maio de 1954 na
Republica Tcheca.

Ela e´filha do famoso cantor Karol Gina, e agora ela tem a sua propria banda "Kale"

Uma Grande Mulher com uma Grande Paixão pelas Pessoas

Abaixo um Video da Musica "Deh Mahnd Pahni" ou seja "Me de Água"




pas o panori
chajori romani
me la igen kamav
joj mamo.joj mamo
de mam pani mamo
de mam pani mamo
de mam pani
pas o panori
beselas korkori
pre ma uzarelas...
nejsem rom(neboli cigos)
ale tuhle pisnicku se ucime ve skole...
tak sem si to vopsal :) no a machruju lol


terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Origem do Preconceito aos Ciganos


Somente a partir de meados do Século XVIII foram publicados os primeiros livros sobre os ciganos europeus, e quase todos os autores reforçaram ainda mais os estereótipos negativos já existentes. Dois pioneiros dos estudos ciganos merecem ser citados: o alemão Heinrich Grellmann (1753-1804) e o inglês George Borrow (1803-1881), que até hoje costumam ser citados por muitos ciganólogos.

Grellmann é conhecido principalmente por seu livro Os Ciganos..... na Europa, um verdadeiro sucesso editorial, que foi traduzido em várias línguas[13] Consta que Grellmann só teve contatos esporádicos com alguns poucos ciganos e que, em lugar de realizar pesquisa de campo, preferiu citar outros autores, inaugurando assim uma prática que tornar-se-ia comum entre os ciganólogos, até hoje. A parte etnográfica, por exemplo, foi quase toda ela transcrita de uma série de pequenos artigos originalmente publicados nos Wiener Anzeigen, em 1775/76, de autor anônimo, mas provavelmente de um certo Samuel Ab Hortis, um húngaro judeu, que assim teria sido o primeiro a escrever uma etnografia sistemática dos ciganos, no caso dos ciganos da Hungria e de Siebenburgen (na Áustria, fronteira com a Hungria). Os artigos de Hortis são às vezes literalmente transcritos por Grellmann, que os cita em 103 notas de roda-pé.

Além disto, Grellmann costumava citar fontes jornalísticas sensacionalistas. Num capítulo sobre “Comidas e Bebidas Ciganas”, por exemplo, transcreveu a notícia de jornais de 1782 que acusava os ciganos de serem antropófagos, ou seja, canibais, comedores de carne humana. Na época, 84 ciganos foram presos como suspeitos de terem assassinado e depois comido algumas pessoas desaparecidas: 41 ciganos foram decapitados, enforcados ou esquartejados.

Em 1783, logo após a publicação do livro, que se tornou um best-seller mundial com edições em várias línguas, ficou provado que esta acusação não teve o menor fundamento e que os 41 ciganos mortos (e os outros ainda presos) tinham sido inocentes: as pessoas que supostamente tinham virado churrasco cigano, reapareceram mais vivas do que nunca.

Mas o mal já estava feito: não somente 41 ciganos já tinham sido injustamente e cruelmente executados, como também, através de Grellmann, os europeus tinham sido informados, e agora acreditavam piamente, que um dos pratos preferidos dos ciganos era carne humana[14]

Para Grellmann, se os ciganos vieram da Índia, só podiam ser da casta mais baixa, dos párias, dos intocáveis. Por isso tentou ainda provar semelhanças raciais e culturais entre os ciganos e os párias indianos. Segundo ele, os párias indianos e os ciganos teriam em comum: uma pele escura e baixa estatura, nudez das crianças, moradia em tendas, preferência por roupas encarnadas, uma língua secreta, danças sensuais, endogamia; os indivíduos de ambos os grupos eram sujos e horrorosos, medrosos e covardes, ladrões, mentirosos, e sem noção de pecado; gostavam de bebidas alcoólicas; as mulheres e moças tinham uma conduta imoral; eram indiferentes quanto à religião, etc. etc. Quanto à cultura: os hábitos alimentares dos ciganos não eram dos melhores, a cozinha era pouca higiênica, não tinham horários para comer e beber, e comiam gado morto por doença ou acidentes, ou carne considerada imprópria para consumo; homens e mulheres gostavam de fumar cachimbo. Usavam vestuário pobre, bem colorido, de mau gosto, principalmente as mulheres, além de muitos brincos e aneis. Suas habitações eram primitivas, mesmo entre os sedentários; viviam em barracas, cavernas e tocas subterrâneas, como animais selvagens. Os casamentos eram precoces, entre 12 a 14 anos, não importando que fosse com parentes. Sempre casavam com membros do próprio grupo (endogamia). Tratavam bem as crianças, que eram mimadas demais; tudo lhes era perdoado, e desde cedo aprendiam a dançar e roubar, mas não frequentavam escolas.

Viajavam em bandos liderados por chefes denominados voivode, duque, conde ou rei, numa imitação ridícula de títulos “do mundo civilizado”. Não tinham religião própria, mas sempre adotavam a religião dos países por onde passavam; batizavam suas crianças várias vezes para deste modo obter sempre presentes dos padrinhos, escolhidos preferencialmente entre os gadjé ricos ou poderosos.

Quanto as atividades econômicas, os ciganos seriam pobres por causa de sua preguiça e seu comodismo; desde há muito eram em muitos países conhecidos como ferreiros (mas os seus produtos não tinham qualidade) e criadores e comerciantes de cavalos (principalmente de cavalos com defeitos físicos, mas que eles com inúmeros truques escondiam, não hesitando também em roubar cavalos). Em alguns países também eram contratados como torturadores e carascos, ou exerciam outras “profissões infames” que combinavam com seu caráter cruel. As mulheres praticavam a quiromancia, enganando os crédulos e incautos. Apesar de tudo, eram bons músicos e dançarinos. Na Waláquia e Moldávia eram ainda garimpeiros de ouro, mas produziam pouco por causa de sua preguiça.

A conclusão final de Grellmann era que entre os ciganos predominavam o ócio e a preguiça, e que se sustentavam principalmente mendigando e roubando, e para isto inventaram os mais diversos truques. Mas, acrescenta Grellmann, como os ciganos eram medrosos e covardes, evitavam roubos perigosos e o uso da violência, e normalmente só furtavam coisas pequenas. Sobre o caráter dos ciganos ele informa ainda que eles tinham uma inteligência infantil e uma alma rude e selvagem, eram guiados mais pelo instinto do que pela razão e usavam seu cérebro apenas para satisfazer suas necessidades primárias, animalescas. Eram ainda tagarelos, inconstantes, infieis, ingratos, medrosos, submissos, crueis, orgulhosos, superficiais, preguiçosos, sem sentimento de vergonha ou honra.

Desnecessário dizer que Grellmann não realizou nenhuma pesquisa entre os ciganos para saber se tudo isto era verdade ou apenas fantasia ou invenção. Nem tampouco perguntou aos ciganos porque, eventualmente, eles agiam desta ou daquela maneira, numa tentativa de entender melhor o seu comportamento e sua personalidade. Numa atitude pouca científica, Grellmann apenas reproduziu os estereótipos que em sua época existiam sobre os ciganos.[1]

Apesar de tudo, de um modo geral as críticas ao livro foram positivas, mas um dos críticos, J. Bietser, escreveu: “... aqui, como em várias outras passagens, pode-se duvidar se o Sr. Grellmann alguma vez na vida viu ciganos; observar e pesquisá-los, pelo menos, ele não pode ter feito”. O mesmo autor, depois de criticar váras passagens do livro, lamenta ainda a falta de qualquer simpatia de Grellmann para com as pessoas sobre as quais ele escreveu.[2] Ou seja, o primeiro livro “científico” sobre a origem, a história, a língua, a cultura e o caráter dos ciganos foi, na realidade, um livro anti-cigano. Fato que provavelmente tenha até contribuído para o seu enorme sucesso editorial. E lamentavelmente, este livro anti-cigano seria a fonte principal em que se baseariam, diretamente ou indiretamente, inúmeros ciganólogos posteriores, do Século XIX e até ainda do Século XX, muitos dos quais pesquisadores de gabinete que também nunca viram um cigano em sua vida, e que assim retransmitiram e reforçaram os velhos estereótipos e preconceitos originalmente difundidos por Grellmann, no final do Século XVIII.

Outro importante formador da opinião pública e científica foi George Borrow, um inglês com um extraordinário dom para a aprendizagem de línguas estrangeiras, pelo que em 1833 foi contratado pela British and Foreign Bible Society, uma organização que se dedicava à tradução e divulgação da Bíblia nas mais diversas línguas.

Inicialmente Borrow passou dois anos em São Petersburgo, na Rússia, para coordenar a tradução da bíblia para o manchu (chinês). Foi nesta época que teve contato com ciganos russos - músicos, cantores e dançarinos - que então gozavam de muita popularidade. Depois Borrow foi transferido para a Espanha, para divulgar a bíblia naquele país e para traduzir parte da bíblia (traduziu o Evangelho de São Lucas) para a língua cigana. De volta na Inglaterra, em 1840, casou com uma viúva rica, o que lhe possibilitou dedicar-se à suas atividades de escritor. Para nós interessa principalmente seu primeiro livro, The Zíncali[3], que trata dos ciganos na Espanha[4]; o segundo, The Bible in Spain descreve sua vida de pregador e distribuidor de bíblias naquele país, mas contém poucas informações sobre ciganos[5].

Borrow fez questão de auto-atribuir-se o título de “romany rye” (romani rai), ou seja, um não-cigano que conhece bem e goza da amizade íntima dos ciganos que, por isso, facilmente lhe contam todos os seus segredos. Está fora de dúvida que ele teve contatos com ciganos na Inglaterra, Espanha, Rússia e Hungria, mas sempre se tratava de contatos de curta duração, quando muito de algumas semanas.

Em The Zincali Borrow apresentou uma imagem altamente negativa e estereotipada dos ciganos espanhois: degenerados, vigaristas, ladrões, que precisavam ser ‘civilizados’, iguais aos ‘selvagens’ de outras partes do mundo. Logo no segundo capítulo de The Zincali, ele informa que os ciganos chegaram na Espanha “com uma predisposição para qualquer espécie de crime e vilania” .... “sua presença era uma maldição e uma desgraça seja para aonde eles se dirigiam”.....”A verdade é que eles não hesitariam em atacar ou até assassinar os viajantes desarmados e indefesos desde que estivessem seguros de poderem pilhar sem muito risco para si mesmos” .... “(os ciganos, em qualquer parte) exibem as mesmas tendências ... como se não fossem de espécie humana mas antes animal, e em lugar de razão são dotados de um tipo de instinto que lhes auxilia até um certo limite e nada mais”[6].

Em outro capítulo Borrow acha que ninguém “pode desejar a continuidade de qualquer seita ou associação cujo princípio fundamental parece ser odiar todo o resto da humanidade, e viver enganando-a, como é a prática dos ciganos”[7]. Além disto, em nenhuma parte do mundo os ciganos dariam o mínimo valor ao asseio, pelo que até já foram acasados de terem espalhados a peste, e “ainda hoje eles são igualmente repugnantes”[8]

Apesar de The Zincali também conter informações positivas sobre os ciganos, difícil é acreditar que algum leitor tenha ficado com uma positiva imagem cigana, porque no decorrer do livro todo predominam os estereótipos negativos: inúmeras são as referências a ciganos ladrões e assaltantes, como também a ciganos vigaristas, principalmente no comércio de equinos. Um extenso capítulo trata do suposto e imaginário “canibalismo cigano”. Apesar de Borrow expressar suas dúvidas sobre este canibalismo, para o leitor comum certamente ficará a certeza que os ciganos sempre foram e ainda são “canibais”. A leitura de Borrow evidencia ainda que entre os ciganos viviam muitos profissionais honestos, como músicos, artistas, toureiros, artesões, tratadores de cavalos, ferreiros, açougueiros, hoteleiros e outros, mas apesar disto, o que predomina nos seus livros é a imagem negativa dos ciganos, principalmente dos ciganos espanhois.

Antes de publicar este livro, Borrow já tinha escrito que “... os ciganos espanhois são o mais vil, degenerado e miserável povo na terra”.[9] Segundo Borrow, os ciganos já tinham este caráter criminoso ao chegarem na Europa e foram eles que introduziram a atividade de ladrão profissional no Continente Europeu, sendo seu exemplo depois seguido por não-ciganos; roubavam mulas e cavalos, assaltavam e assassinavam, mas como eram covardes, evitavam situações perigosas. Os ciganos mais fracos, e que não prestavam para esta vida criminosa, produziam artesanato ou vendiam os cavalos roubados nas feiras.

As mulheres ciganas não mereceram um tratamento melhor: dedicavam-se à quiromancia, uma prática para enganar os crédulos e supersticiosos, e na qual utilizavam inúmeros truques sujos. Para Borrow, as ciganas eram umas verdadeiras bruxas, capazes de artes diabólicas, peritas em venenos e poções afrodisíacas ou abortivas. Eram ainda cantadoras de canções obscenas, batedoras de carteiras e furtavam nas lojas. Mas nem tudo era negativo: as ciganas valorizam a castidade antes do casamento e a fidelidade conjugal; prostituição, nem pensar, e cigana que casasse com não-cigano seria expulsa do grupo. Borrow cita até o caso de uma cigana que foi enterrada viva por causa disto, o que seria mais uma prova da crueldade inata dos ciganos.

Os livros de Borrow provam ainda que também ele – da mesma forma como Grellmann - não tinha a mínima simpatia pelos ciganos e que, na realidade, até os detestava. Um agravante é que anos depois, em 1874, o ciganólogo Groom descobriu que Borrow plagiou descaradamente muitas informações sobre os ciganos espanhois e húngaros de um livro de viagem pouco conhecido de Richard Bright, publicado em 1818. Groom, antes um admirador confesso de Borrow, depois chega a chamá-lo de impostor, mas apesar disto o auto-proclamado ‘romani rai’ e ‘amigo dos ciganos’ Borrow ficou famoso como a maior autoridade em assuntos ciganos na Europa do Século XIX. O problema é que muitos ciganólogos e pseudo-ciganólogos posteriores, poucos dos quais tiveram qualquer contato pessoal com ciganos, se basearam em Borrow, e plagiaram descaradamente seus livros. Ou seja, plagiaram o que já era plagiado!

[1] Evans 1996; cfr. também o Report do Helsinki Committee for Human Rights in Serbia.

[2] Stewart 1997, p. 3

[3] ERRC, “Written comments concerning the former Yugoslav Republic of Macedonia..... 1998”.

[4] Stewart 1997, p. 13

[5]ERRC 1997, no. 3; sobre a discriminação profissional na ex-Tchecoslováquia, veja também Helsinki Watch 1992, pp. 75-90.

[6]ERRC, Divide and deport: Roma & Sinti in Austria, Country Reports Series no. 1, Budapest, 1996

[7]Fox 1995; Auzias, C., “Le statut des Roms en Europe”, IN: Les Tsiganes, Paris, Ed. Michalon, 1995, pp. 86-90; ERRC, “Written Comments concerning the Czech Republic .... 1998”.

[8]ERRC 1998, no. 7, p. 24

[9]Danova, S. & Russinov, R., “The ERRC in Croatia – field report”, Roma Rights, Summer 1998, pp. 49-57

[10]ERRC, “Written Comments concerning the Czech Republic ...... 1998”.

[11] Veja vários artigos no The Patrin Web Journal – Canada as Haven for Roma e Roma Exodus from Czech Republic, como também ERRC, “Written Comments concerning the Czech Republic..... 1998”. Em abril de 1997, pela primeira vez uma família de vinte Rom tchecos – os pais, 3 filhos e suas esposas e 12 netos – receberam asilo político, o que abre um precedente para outros mais de mil Rom tchecos e 500 Rom húngaros que solicitaram asilo; cfr. Roma Rights, Spring 1998, pp. 14-15

[12] San Roman, T., “Culture traditionelle et transformation de l’identité ethnique chez les gitans espagnols en voie d’intégration”, IN: Williams, P. (ed.), Tsiganes: identité, évolution, Paris, Études Tsiganes/Syros Alternatives, 1989, pp. 203-211

[13]H.M. Grellmann, Die Zigeuner. Ein historischer Versuch uber die Lebensart und Verfassung, Sitten und Schicksale dieses Volks in Europa, nebst ihre Ursprunge, Dessau/Leipzig 1783; 2a. edição ampliada Gottingen 1787; traduções em inglês (1787 e 1807), francês (1788 e 1807), holandês (1791) e polonês (1824). Infelizmente não foi possível obter qualquer edição deste livro pelo que as informações a seguir sobre H. Grellmann baseiam-se principalmente em W. Willems, Op zoek naar de ware zigeuner: zigeuners als studieobject tijdens de Verlichting, de Romantiek en het Nazisme, Utrecht, Van Arkel, 1995, pp. 23-90.

[14]Fraser, A., The Gypsies, Oxford, Blackwell Publishers, 1992, pp. 195-196; Willems 1995, pp. 27-28. O número dos ciganos presos e condenados varia um pouco de um autor para outro.


Conteudo do Livro
"ROM, SINTI E CALON OS ASSIM CHAMADOS CIGANOS" de FRANS MOONEN